Memória: Esquecer é normal da idade?

Todos os dias no consultório há um paciente com queixa de memória.

Mas afinal, o que é “memória”?

A “memória” é muito mais do que lembrar ou esquecer de algo.

Pensemos na memória como cognição:

A capacidade de um indivíduo lembrar, pensar, executar, julgar e socializar.

Quais as principais causas de “esquecimentos”?

  • Envelhecimento normal: paciente esquece mas logo lembra. Ou esquece pequenos assuntos que não interferem no dia-a-dia, mantendo-se independente e autônomo.
  • Neuropsiquiátricas: Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson, Acidente vascular cerebral (AVC), entre outras.
  • Clínicas: distúrbios da tireóide, deficiência de vitaminas (vitamina B12), alteração no sódio.
  • Medicamentos: calmantes, soníferos, alguns anti-depressivos, entre outros.

O que fazer em casos de sinais de perda de memória?

Quando estamos diante de uma queixa de esquecimento temos que pensar na capacidade cognitiva como um todo. Por isso é fundamental a realização de alguns testes para avaliar a cognição, ou popularmente, a memória, estes são chamados de testes cognitivos.

Estes testes vão nos dizer, baseado na pontuação específica para a escolaridade de cada um, se essa queixa de memória é real ou se é subjetiva – a pessoa acha que tem problemas na memória, mas não tem.

Outro aspecto muito importante na avaliação da memória é entendermos o quanto essa queixa de esquecimento interfere no dia-a-dia daquela pessoa.

Veja alguns sinais que merecem atenção

Ela deixa ou deixou de realizar alguma atividade por causa de esquecimento ou está apresentando dificuldade de executar alguma tarefa? Como por exemplo:

– Ir ao banco

– Pagar contas ou cuidar das finanças

– Tomar as medicações no horário adequado

– Lavar roupas

– Usar o telefone

– Preparar uma refeição

Depois de feita a avaliação clínica, realizados os testes de memória e avaliada a funcionalidade desta pessoa, é fundamental realizar um bom exame físico para avaliar algumas alterações neurológicas e, na grande maioria das vezes, é necessário complementar com exames laboratoriais – para avaliar a tireoide, vitaminas, entre outros – e exame de imagem – para descartar alterações que justifiquem essa perda de memória. Alguns casos são necessários realizar outros exames mais complexos, mas essas indicações devem ser individualizadas.

Paciente com queixa de memória:

– Uma boa conversa para entender a história clínica

– Avaliação cognitiva para “testar” a memória

– Exame físico adequado

– Exames complementares individualizados para excluir alterações na tireóide, déficits de vitaminas e outras doenças que possam estar levando a perda de memória

Se a queixa de memória realmente está presente, essa pessoa começou a ter dificuldade de realizar algumas atividades e teve um baixo desempenho nos testes cognitivos, podemos estar diante de uma síndrome demencial, ou transtorno neurocognitivo maior. A Doença de Alzheimer é a mais conhecida, mas existem outras, como a Demência Vascular, Demência de Lewy.

Existe tratamento? Posso melhorar minha memória?

O tratamento é multidisciplinar, incluindo uma boa alimentação, estímulo à prática de atividade física, exercícios de estímulos cognitivos, controle das doenças crônicas (como hipertensão, diabetes e hipotireoidismo) e tratamento medicamentoso. Com essas abordagens conseguimos controlar alguns sintomas relacionados a demência, melhorar a qualidade de vida e proporcionar uma progressão mais lenta das incapacidades. Infelizmente ainda não podemos falar em cura, mas podemos falar em qualidade de vida, e este é o grande objetivo da Geriatria: prevenir, cuidar e apoiar.

Se você acha que está mais esquecido ou se preocupa com algum familiar que está mais esquecido, o leve para uma avaliação geriátrica. Além de avaliar toda a parte da memória, o Geriatra irá avalia-lo de forma ampla, focando no indivíduo e não na doença.

Referências
Sachdev PS, Blacker D, Blazer DG, et al. Classifying neurocognitive disorders: the DSM-5 approach. Nat Rev Neurol. 2014 Nov;10(11):634-42.
Lane CA, Hardy J, Schott JM. Alzheimer’s disease. Eur J Neurol. 2018 Jan;25(1):59-70.
Scarmeas N, Anastasiou CA, Yannakoulia M. Nutrition and prevention of cognitive impairment. Lancet Neurol. 2018 Nov;17(11):1006-1015.

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